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Agronegócio vs povos da terra
BRASIL - Despejo da Gleba Tauá (TO) foi suspenso e agentes da CPT e posseiros foram detidos (videos)
CPT Araguaia Tocantins
quinta-feira 21 de janeiro de 2016, postado por
Quinta, 12 Novembro 2015.
I.
Dona Raimunda, de 73 anos e vivendo na Gleba Tauá há mais de 50, juntamente a 30 famílias estão sendo despejadas da área onde vivem há pelo menos três gerações nesse momento. Confira depoimento de agentes da CPT Araguaia Tocantins sobre o despejo, com forte aparato policial.
Felix Karrer & Hans Haldiman, SRF (Mitenand), 2015 – Fastenopfer (3’26) [1]
“Hoje é um triste dia! Um dia que vai ficar marcado na história! Nesse momento estão sendo despejadas cerca de 35 famílias tradicionais da Gleba Tauá no município de Barra do Ouro TO.
Famílias que vivem nessas terras há mais de três gerações, essa é um terra da UNIÃO FEDERAL, mas que foi grilada pelo grupo Binotto, de Santa Catarina, que chegou e começou a ameaçar as famílias com pistoleiros, queima de barracos, matança de animais, desmatamentos, ameaças de morte. Essas famílias que estão sendo despejadas nesse momento já viviam nessas terras quando os grileiros chegaram.
A justiça por sua vez está cega ou pior se finge de cega, o juiz da comarca de Goiatins (TO) tem dado várias decisões a favor dos grileiros, sem pedir que se faça perícia na área, baseado apenas em documentos que não comprovam nada, e deixando de analisar todas as provas que as famílias apresentaram que vivem nessas terras há décadas. O Juiz não levou em consideração os vários documentos do ministro do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) onde nega o pedido de regularização fundiária feito pelo o grupo Binotto, que fracionou mais de 11 mil ha de terras da UNIÃO em nome de laranjas, formando um verdadeiro laranjal.
Pra onde vão essas famílias? No manual de diretrizes para cumprimento de reintegração de posse da Polícia Militar do Tocantins, diz que precisa ser feito um levantamento da área, e antes da PM ir dar apoio ao oficial de justiça no cumprimento da reintegração de posse, é preciso saber para onde vão essas famílias, é preciso ter um local pra levar os animais das famílias, e isso infelizmente não tem.
Triste dia esse, onde o poder econômico fala mais alto, onde a justiça mostra de que lado está, está do lado dos poderosos!
Indignados podemos afirmar que continuaremos a defender essas famílias, que vamos buscar dentro das decisões do juiz de Goiatins as contradições e omissões para oferecer uma denúncia no CNJ, e que qualquer violência a mais que seja cometida contra essas pobres famílias serão todas denunciadas”.
II.
A polícia suspendeu o despejo porque enquanto estava no local, funcionários do fazendeiro Binotto, que se diz dono da área, derrubaram com um trator a casa de dona Raimunda, o que segundo a diretriz de cumprimento de reintegração de posse é proibido.
Enquanto a polícia se deslocava da casa de dona Raimunda para despejar outra casa, o comandante da operação percebeu que havia perdido seu rádio. Ao retornar para procurar o aparelho, ele se deparou com o barracão de dona Raimunda sendo destruído por um trator com funcionários de Binotto, e devido a isso suspendeu a operação de reintegração de posse. Não sobrou nada da casa (veja nas fotos).
Foram detidos durante a ação os agentes da CPT Araguaia Tocantins: frei Xavier Plassat, Rafael Oliveira, Evandro Anjos e Pedro Antônio Ribeiro. Antônio Filho, agente da CPT Pará e dois posseiros da gleba Tauá também foram detidos. Eles foram encaminhados para a delegacia de Barra do Ouro (TO). Os advogados da CPT e da Comissão de Direitos Humanos da OAB foram até o local e estão acompanhado o caso. Os agentes da CPT deverão ser conduzidos para delegacia de Polícia em Araguaína onde prestarão depoimento.
A CPT irá, também, denunciar a truculência da polícia na ação, que foi filmada e fotografada, em que a filha de Dona Raimunda foi arrastada por policiais e dois agentes da CPT foram agredidos pelos mesmos.
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[1] English translation:
Dona Raimunda, what does this mean?
This is Macumba, black magic. That these people have done to kill me and then take away my land.
Dona Raimunda and her family. Barra de Ouro, in the Brazilian state of Tocantins, far, very far from the cities. Here she lives, the septuagenarian, on land that belonged to the state, and on which small farmers could settle and found a modest livelihood. 60 years ago she lived here. Until one day, capitalist left big cities and came to Barra de Ouro.
They came with money, wanted land to set pastures and vast soy plantations. A cold – and sometimes hot – war began, against Dona Raimunda as well tens of thousands of other small farmers in the vast country. The Agrarian Reform Law gave the smallholders rights, but the law did not come up to Barra de Ouro.
They came with two huge tractors, between which strings were stretched. So you have everything laid flat.
And what have you done?
We went to court, then they stopped, but the people of the Agrarian Reform Office never came here, and the case is still not complete.
Do they have deeds, documents?
Clear they have. But they are false. They have a notary, which fabricates them false documents.
Dona Raimunda, aged 70, still going with ax and machete…
You know, I am not hot-tempered. I am a patient woman. Even if they tell me something bad, I do not give back, but think about it. I do not do wrong. I never wanted to kill anyone.
Dona Raimunda is one of many. But she is not fighting alone.
If the Pastoral Land Commission (CPT) didn’t exist, I would no longer be alive. They would have killed me already, somehow.